quinta-feira, 22 de outubro de 2009

E se?...

O velho inspirou olhando o mar e sentindo o vento que moldava as águas a seu bel prazer.
Sentado na areia, enregelado, sentia os dedos da mulher na sua cara. Ele nunca tivera medo da morte, do fim, do nada. Agora e ali, sentia que ela chorava interiormente, antecipadamente, o seu fim.
Olhou para ela, as linhas do rosto tornaram-se mais visíveis e sorriu, pateticamente.
Levantaram-se, ele a custo, ela mais rapidamente, sempre são vinte e cinco anos de diferença.
Chegado a casa, olha para o computador que lhe serve de ferramenta de trabalho, para os livros que compõem o seu escritória, deita para fora um último fôlego e cai morto.
De súbito demasiadas coisas acontecem. The end is not the end, como Nick Cave o cantou, sem que o velho tivesse ouvido aquela música. Se a tivesse ouvido tinha rido daquela lenga-lenga. Mas se o corpo jaz na sala, enquanto a mulher toma um duche, a alma continua viva.
De repente um fulgor atinge-o. A ele? como é possível se está morto...?!
Vê Deus, sem o ver. Quase cego, pela santidade, ajoelha-se, toma consciência da sua pequenez, o ateu acredita e treme.
Não ousaria levantar os olhos, se os tivesse. Está consciente do que é, do que foi, do que fez.
Uma voz como de trovão chama-o pelo nome, pelo que de mais íntimo forma o seu ser. Ouve/vê/sente os seus actos passados. Sente-se perdido. Continua a não perceber Deus, mas compreende que Ele existe. Já não deus, mas DEUS.
Perante o Santo dos Santos compreende que não há salvação possível. Ao lado direito de Deus uma figura humana, com ar duro. Olha para ele, mansamente, só poderias ser salvo por meio de mim.
Como? Como poderia eu acreditar?
O Cordeiro olha para outros ali, eles acreditaram.
Mas eu, eu...
Tu escolheste recusar, acusar, ridicularizar. Escolheste outra crença. Mesmo tendo tido acesso à Palavra. Escolheste.
Não consegue arranjar desculpas. O fulgor e o sentimento de pecado são tão fortes que o impelem a baixar os olhos e ficar calado.
De um momento para o outro encontra-se longe de Deus, sofrendo agruras inconcebíveis até há algum tempo.
O fim está ainda no início.
O fim demora a eternidade.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Maitê

Fala-se mais agora de Maitê do que aquando do lançamento do seu livro, mas provavelmente menos do que na altura de Dona Beija.
O que Maitê fez, disse pouco me importa, não fiquei escandalizado. Aliás, se virmos o vídeo com atenção percebemos a grassa ignorância da actriz, nos nomes das coisas, no falar português ou brasileiro (concordâncias, amiga, concordâncias), e acima de tudo deparamo-nos com a realidade. Os actores nem sempre são o que parecem ser na telinha ou no telão, muitas vezes são vítimas de um upgrade, o que nos leva a confundi-los com os personagens. No caso de Maitê percebemos que para além da carinha laroca, o que nos fica é uma imagem de alguém bobo, sem arte para fazer humor e que cai no ridículo.
Ridículo também seria continuar a escrever sobre Maitê, aliás, ela pode e deve ter opinião sobre Portugal e os portugueses, é livre de o fazer, por mais parva que esta seja.
O problema é que a tentativa de fazer humor é fraca, tanto nos exemplos, como no tom, bem como no timing, Maitê até pode ser boa actriz, mas é péssima cómica.
Péssima porque até é fácil fazer humor utilizando um povo ou um país, olhando para os brasileiros que conheço conseguiria fazê-lo melhor do que ela.
O pudor e a amizade, no entanto, impedem-me de o fazer.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


Quem é que compra uma revista para adultos com Marge Simpson na capa? Depois das capas de BD com fotos de artistas e actores, agora é a Playboy que faz o contrário. Pior que isto só a Ana Malhoa com ar de prostituta a precisar de dinheiro...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dúvida

Uma dúvida me apoquenta. Os deputados escolhidos pelo círculo dos emigrantes são de direita (3x1). Quererá isto dizer que hoje é a malta de direita que emigra?

Quim Zé (I)

Não haverá maior fardo do que o carregar um nome estranho, cómico, fora do vulgar ou, em algumas situações, demasiado banalizado. Experimentem chamar a Maria numa sala com 10 Marias.
Quim Zé, diminutivo(s) de Joaquim José, concordemos que a junção foi...infeliz, sofreu com o nome. Ou melhor, sofre hoje, mais do que anteriormente, antigamente era só o Joaquim ou só o Zé. A culpa é de um tio, que ainda por cima viu e vê pouco, numa noite fria e aquecido pelo bom a valoroso etílico. A bebedeira foi curada, mas o nome ficou. Ficou para os mais próximos ou para os amigos, no trabalho é simplesmente, ah! se fosse possível ser simplesmente alguma coisa, o Joaquim, ou Dr. Joaquim, como lhe chamam os seguranças da empresa.
Perguntar-se-ão vocês porque vos falo do Quim Zé? Porque o conheço, quase tão bem, quase não, igualmente como a mim mesmo. E qual o interesse do Zé? Nenhum ou quase nenhum. O interesse que vejo nele (esta construção será contraditória ou paradoxal?) tem a ver com a existência, às vezes, profícua demais para se acreditar nela, de acontecimentos banais, aventuras e desventuras, se quiserem, no dia a dia (com traço ou sem traço? É à vontade do freguês, ele é dia-a-dia ou fim-de-semana. Para uns teoriza-se as regras de língua, para outros a elasticidade da mesma. Continuo a preferir o sexo dos anjos que como todo o cristão não têm sexo, são carteiros assexuados ao serviço do Altíssimo.).
Haverá lugar hoje para as aventuras quotidianas? Ou estaremos demasiado embevecidos com os produtos televisivos e cinamatográficos da Madeira SSanta (perceberam o chiste? Pois, fraquito. Quem dá o que tem...).
Acredito que sim, acredito que nas experiências do Zé, nos lapsus liguae ou na desatenção crónica do que é socialmente tido como importante, haja espaço para nos rirmos, assombrarmo-nos e viajar por um mundo de aventuras (só com letras, sem imagens) banal. O nosso - o da Dona Gertrudes da Mercearia, da Maria do Zé, que não sabemos o que faz, mas que vemos na janela há 15 anos, sem falhar um dia, se está sol, curvada a ver quem passa, se chuva ou frio severo, entreolhada, com um xaile ou manta a tapar-lhe as costas, vendo quem passa e comentando tudo o que vê e infere às vizinhas/quadrilheiras no longo tempo que demora a beber um café (para ela(s) nunca menos de hora e meia, se for cheio um pouco mais). É o mundo da escola, das aprendizagens, dos amores e desamores, do meter o pé na poça no momento errado, às vezes, no momento certo.
Do Quim Zé falaremos mais aqui por diante, amanhã talvez.
Deixem-me terminar com algo completamente diferente. Recebi um mail, agora mesmo, há cinco segundos do mohamed mohamed. De quem? Conheço-o tanto como vós. Aparentemente o mohamed mohamed (que será um nome bem pior que Quim Zé) viu-me online e eu sou totalmente (tradução livre, claro!) cute. Deixo-vos algumas das suas palavras "im going to school out around here and looking to meet some others why not add me on windows msn messengr paris19pop@hotmail.com is my nameon it, my new laptop has a built in cam so i can send some photos of me since i already seen you! ttys"
ttys para ti também, pobre rapaz. Comecemos pelo básico, não acredito que haja uma rapariga que se chame mohamed mohamed, daí que eu não esteja no teu campeonato. Aliás, estranho a facilidade com que hoje se diz vi-te online. Que é isso de me veres online? Passaste ontem por mim. Onde? Online, eu estava no mail e a ver um vídeo no youtube e tu passaste por mim, infelizmente já não fui a tempo de te chamar.
Que pena...até não estava a fazer nada de mais...podíamos ter conversado um pouco.
Estão a perceber o ridículo de coisa, não estão?
Depois a forma como se coloca no mundo, no universo, ele anda na escola around here. around here, onde? Não, mohamed, não respondas, era uma pergunta retórica a uma frase estúpida, mas quiçá verdadeira, é que eu também ando numa escola aqui, ou por aqui.
Comecei por falar do peso do nome e acabei a falar no mohamed mohamed, prova infalível de que o nome pesa, pelo menos, nos e-mails que se escrevem.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!?

Não preconizo a escrita sem sinais de pontuação. Se é verdade que alguns dos mais belos textos que existem obedecem à progressiva erradicação do uso de alguns dos sinais, também é verdade ler e saber que outros os usam com mestria.
Neste momento, leio mais jornais que blogs e foi num ou dois jornais que me deparei com a polémica do ponto de exclamação. Mas o que é que têm contra o ponto de exclamação? Qual o problema? Não percebo!!!
Parece-me birra entediante, mimada e espalhafatosa... estão no direito de não o usar, claro! Estão no direito de regurgitar bílis, e clamar aos quatro ventos por paciência, quando se deparam com eles, mas abrir uma polémica porque não se gosta do ponto de exclamação! C´um raio!!!

Mas como os percebo. Não gostarão de indicações, gostam de ler os textos com a sua entoação, a sua interpretação e sem tropeçarem naquela porra daquele ponto. Semtem-se limitados e qual a melhor forma de resolver a limitação do que a erradicação?

Eu propunha o fim dos coffs coffs nas intervenções mediáticas, perturba-me aqueles que falam e ouvem, cofiando a barba, dando a imagem, um preconceito, sei empiricamente, de sabedoria. Ah! Se todos os que cofiam a barba fossem inteligentes...e os inteligentes sem barba? cofiarão o quê?
Propunha o fim do que se escreve e não é lido, por manifesta falta de interesse, como aliás serão os textos deste blog ou o blog em si.
Propunha o fim deste texto, melhor, proponho o fim deste texto...com pontos! Muitos pontos...
Ser contra hoje está na moda e ser contra aspectos exóticos mais ainda.
Assim sendo, termino terminando, concluo sem concluir e pedia que nos juntássemos em amena cavaqueira (figuras de estilo? chavões? se é para cavaquear, porquê fazê-lo amenamente?)


sem ponto final, para não terminar
nada

Flashforward

Vi ontem o primeiro episódio de Flashforward.
Gostei, mais ainda por saber que o elenco é maior do que o que vimos ontem, não há pressa em colocar toda a carne na assadeira, e vibrei com a presença do Steve do Coupling, como o pai da criança no hospital e provável amante da mulher de Joseph Fiennes.
Mas este gostei é moderado. Se a série está bem escrita e promete cliffhangers todas as semanas, por outro lado é escrita por Goyer e isso para mim é razão suficiente para pôr um pé, pelo menos, atrás.
Goyer foi o argumentista dos 3 Blades e realizou igualmente o, execrável todos os dias, terceiro.
Goyer escreveu BD e posso dizer que gostei de muito do que li, ainda que raramente tenha escrito sozinho, sempre a meias com alguém. Como neste caso é isso que acontece, dou o braço a torcer, mas não coloco as minhas expectativas muito altas.

Agora, a pergunta que se coloca: o que viu José Sócrates? E Jorge Jesus?
Eu gostava de saber...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ficção à portuguesa?

O seco algarvio chegou onde queria. Teimoso, com pouco jeito para a palavra, venceu o poeta, mostrando que a palavra nem sempre é sinónimo de vitória.
Desconfia que ou nem toda a gente o ouve ou não o percebe. Será que falo para o boneco, pensa, num sentido lato, quando recebe o primeiro-ministro. Não gosto deste tipo, mas o bochechas gostava menos de mim. Se eu aguentei tu também aguentarás, mas ao contrário do outro quero que eles gostem de mim.
Semanas passam, o Presidente sente-se atacado e veta um Estatuto. Confiando na sua percepção, fala ao país, tentando alertar para os perigos desse Estatuto. Entre o sol e as praias, saindo na noite algarvia, milhares de portugueses ouvem e não percebem o que o Presidente quis dizer.
Triste com tal facto, e já não gostando de tentar gostar do Primeiro Ministro, o Presidente começa a fartar-se de tanta incapacidade. Ah! Se fosse mais novo ou tivessemos um sistema presidencialista.
No que eu me fui meter...
A companheira de tantas lutas é escolhida para líder do partido. Ele pensa que ela é louca, no que ela se vai meter. "Vá ver a sua neta, não se meta nisso."
Continua a falar aqui e acolá, mas pouca atenção lhe dão.
Um dia, o homem que pouca gente ouve e muita gente não quer ouvir convence-se, ou convencem-no,que o estão a escutar.
Em vez de se sentir feliz arma um enorme imbróglio e fala novamente, depois de tempo, ao país.
Ninguém o percebe.
Eu também não, não devia estar contente por alguém o querer ouvir?

Ainda que não tenha pachorra para o existencialismo (vão plantar batatas) tenho tendência a gostar de produtos televisivos/cinematográficos que abordem as questões da identidade.

Um exemplo disso é a nova série de Joss Whedon, de quem abomino Buffy e Angel, ainda que goste bastante de Firefly e Serenity.

Falo de Dollhouse.

De que trata Dollhouse?

Dollhouse é uma organização que utiliza agentes para diversas missões e tarefas, desde dar prazer físico aos seus clientes até à libertação de reféns ou acompanhar clientes em desportos alternativos, o senão é que os agentes (dolls) foram "formatados", a sua personalidade, e memórias, foram limpos e em cada missão é-lhes implantadas memórias e características referentes a essa mesma missão.

Os principais protagonistas são Echo e Paul Ballard. Echo é uma das dolls, mas pouco a pouco a sua verdadeira personalidade vai emergindo das personagens implantadas e Paul Ballard, o agente do FBI que tenta provar a existência da organização, que toda a gente tem como sendo uma lenda urbana.


Confesso que gostei menos da série do que gostaria, continuo a preferir Firefly, mas há algo que me impeliu a ver toda a primeira temporada num fim de semana.

Por um lado, Dollhouse consegue manter o humor presente nas séries de Whedon, por vezes "in your face", outras mais requintado.

A premissa de Dollhouse contém a possibilidade de se imolar pela repetição, caindo no erro de Alias e outras séries, através da escrita e da emergência da personalidade primária de Echo essa repetição acabou por ser ultrapassada, ainda que os primeiros episódios sejam ligeiramente recursivos.


Eliza Dushku é uma surpresa, melhor actriz do que esperava.

No entanto aquilo que realmente me atrai na primeira temporada é a formatação dos agentes e a forma como a natureza/personalidade primária lentamente vem ao de cima.


Uma série interessante, mas que terá de passar pelo crivo da segunda temporada.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Pergunta sincera

A Soraia vai ler vestida? Sem palavrões?
E vai ler somente no lançamento, ou lerá todo o livro?

Estudos sociológicos sobre os portugueses precisam-se

Num dos jornais leio que Sócrates é o pior Primeiro-Ministro depois do 25 de Abril, Santana Lopes o segundo.
Se ganhar, como parece que vai, a vitória deve dizer alguma coisa acerca de nós, portugueses.

2666

2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.2666.

Ou como Portugal prova que é o rei dos excessos da moda. O livro ainda não saiu e já toda a gente o leu. Quem o vai comprar? Será o flop do ano?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Concordância Absoluta

"O clip emitido ontem à noite pelos Gato Fedorento, com os atentados à gramática de Manuela Ferreira Leite (coisinha para provocar um ataque cardíaco fulminante à malta do Ciberdúvidas), é mais favorável a Sócrates, garanto-vos, do que 234 tempos de antena institucionais do PS."

O Caso TVI, a Impacialidade e o Jornalismo

Comecemos com uma confissão. Raramente via o Jornal de 6ª Feira e quando o vi não gostava do estilo.
Com isto em mente, duas coisas. Uma, os factos são uma coisa, o estilo é outra.
Os factos, que desagradarão a muitos não foram desmentidos e foram aproveitados por alguns outros órgãos de comunicação, de onde alguns jornalistas, hoje, dizem cobras e lagartos do telejornal e acusam-no de não ser jornalismo. Num Expresso da Meia-noite há algumas semanas vi e ouvi com atenção o repúdio de João Marcelino ao estilo e forma do Jornal de 6ª Feira. Esquecemo-nos que este senhor foi director do Correio da Manhã? Que não comentendo os excessos de estilo do Jornal de 6ª, não será o melhor exemplo do jornalismo que Marcelino hoje evoca? Haverá, concerteza, uma diferença, mas ela para mim é ténue, porque se abomino, ainda que aceite, a parcialidade de Moura Guedes, abomino igualmente as notícias de faca e alguidar, e o sensacionalismo, do CM. A verdade é que o adágio é real, só vê, ou lê, quem quer.
Está na moda atacar o jornalismo daquele jornal como obsceno, parece-me no entanto que os que riem com John Stewart e com o programa dos Gato, fazem-no porque encaram estes dois últimos como somente um programa de humor.
Em relação ao Daily Show já li o suficiente para saber que é mais do que isso. Tem maior audiência, nos EUA, do que muitos telejornais, e muitos dos que o vêem não acedem a outro tipo de informação (depois deixo aqui o nome do livro com estas informações. De cor, não sei!). Por falar em EUA, a realidade é diferente da nossa. Somos convencidos que o jornalismo em Portugal é imparcial (vejam as entrevistas a Sócrates, tanto as da RTP como as da SIC), mas o que vejo é medo de ir um pouco mais além nas questões e uma certa condescendência ao poder político, qualquer que ele seja.
O programa dos Gato parece-me ser "somente" um programa de humor. Claro que um programa de humor pode não ser somente um programa de humor, ainda para mais quando feito por este quarteto de grande sucesso em Portugal. Ontem, achei que o programa foi quase um tempo de antena do PS, tamanho foi o ataque (quase toda a primeira parte) ao PSD. Podem dizer que o programa anterior tinha sido idêntico em relação ao PS. Talvez, mas achei o de ontem mais mordaz, mas condescendo. O facto de ser líder nas audiências televisivas (acrescente-se aqueles que o vêem pela net) terá, na minha óptica, um maior peso na decisão de parte do eleitorado (penso no mais jovem) do que os dez debates entre os líderes partidários.
Voltando um pouco atrás, a verdade é que em Portugal não temos, desde há algum tempo, grandes tradições de órgãos de comunicação mais incisivos, mordazes e agressivos. Não será à toa que uma das "notícias" do primeiro Inimigo Público tenha feito carreira como notícia real, durante algum tempo. Mas lá fora há alguma tradição. O El Pais tem, agora menos, uma ligação ao PSOE, a Fox News é, claramente, uma estação de direita e os ataques ao Presidente Obama são frequentes. Dizem-me que há outros programas semelhantes ao estilo de Moura Guedes aqui e acolá.
Penso, então, que o problema será de tradição, mas também de estilo, e refiro-me agora ao de Sócrates. Explico, deambulando. Continuo a achar que o Governo de Santana não foi assim tão mau. Falharam essencialmente duas coisas, a falta de mão nos ministros e na boca destes e uma defesa capaz dos ataques da imprensa.
Deixem-me aflorar este segundo aspecto em primeiro lugar. A imprensa, ou os órgãos de comunicação social, para ser mais ambrangente, fizeram grande parte do trabalho da oposição no tempo de Santana. Terá havido casos muito mais graves como o "jamais", um dos ministros deste Governo fazer avaliações brejeiras sobre o que faria com Carla Bruni, entre outros? Acredito que sim, mas muitos dos casos que fizeram páginas nos jornais eram menos graves de outros que pudemos assistir nestes 4 anos e meio
.
Parece-me que a estratégia de Sócrates foi virar o bico ao prego. Sócrates foi inteligente o suficiente para ver as falhas do Governo anterior e tentar alterá-las. Penso que a inteligência rapidamente se transformou em excesso, e se em alguns momentos preferiu não falar, noutros preferiu atacar veemente o que achava a despropósito; noutros casos manteve o Ministro, mostrando, como Santana não mostrou, quem mandava, noutros defendeu até à exaustão as atitudes e opções ministeriais, para agora, como no caso da educação, fazer de Maria Madalena e dizer que errou. Mais vale tarde que nunca, mas esta mudança de atitude parece-me demasiado oportuna.
Sócrates dizia a Araújo Pereira que entendia o cargo de Primeiro Ministro como uma missão, o apóstolo do PS esquece-se é que por vezes pode e deve falar com alguns dos actores envolvidos. E Sócrates, e os seus ministros, recusaram-se muitas vezes, ainda ontem ou anteontem, a falar com sindicatos, apelidando-os muitas vezes de estarem a ser usados por outros partidos, nomeadamente o Comunista.
Sócrates tentou dominar a comunicação e o que nela era dito e fê-lo quase com KO técnico, o que no caso TVI tem de ter um preço. Será normal que um jornal líder de audiências seja cancelado pela administração. Teorias da Conspiração há muitas e não quero entrar nelas, mas os discursos, ataques de Sócrates tiveram o preço de ser trazido para dentro deste imbróglio.
Em último lugar, gostava de perceber o que é a imparcialidade no jornalismo. O que se entende por tal? Há diferentes tipos de jornalismo? Nuns é lícito maior ou menor parcialidade?
Tenho para mim que o problema aqui é político. Nós não nos importamos com a imparcialidade, importamo-nos com a dita imparcialidade no jornalismo que trata da política.
Observem as primeiras páginas dos jornais desportivos. Parciais ou imparciais?
O Porto ganha no Sábado e as grandes notícias são o Benfica? O Porto ou outra equipa nacional ganha um jogo importante, cá ou na Europa, e a grande notícia é o Benfica? A lesão de um jogador, uma entrevista a um dos jogadores em destaque ou o suposto interesse do Benfica num jogador?
Parcialidade? Preocupamo-nos com isto? Não...é somente futebol. Mas, não é, também, jornalismo? Eu sei que se trata de política de vendas e o Benfica vende mais do que todos os outros, mas... porque é que não nos preocupamos com a parcialidade nestes casos?
Não quero fazer uma defesa de Manuela Moura Guedes, nem serei a melhor pessoa para o fazer, mas penso que jornais como o dela são importantes, como o Independente o foi, ainda que com menor permeabilidade de audiências. Aqueles que o acusam disto e daquilo podiam e deveriam tentar responder às questões que ficam, aos assuntos aflorados e, se necessário, fazer debates sobre o estilo. O jornalista pode, acrescento deve, ter um estilo próprio. Não tem Crespo, na SIC Notícias, um estilo próprio? Não têm os piscar de olhos e comentários (de, por exemplo, José Rodrigues dos Santos) malandrinhos uma boa dose de imparcialidade e personalidade do jornalista?
Penso que a TVI nos habituou a dar ao povo o que ele queria, mais do que ele necessitava, mas os outros órgãos de comunicação ficaram demasiado apáticos e condescendentes com o poder político vigente. Por outro lado, os proclamados jornalistas de qualidade terão uma missão de o praticar e ensinar as audiências a filtrar o que é bom do que é pernicioso. Essa será a sua missão, não a do Governo ou a de alguma administração.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Rui zink

Que não tenho muitas visitas percebe-se ao olhar para o contador. Carregar como se não houvesse amanhã na tecla Page Down. Que 50% dos que me visitam seja através da frase/nome/expressão Rui Zink deixa-me atordoado.

Obrigado, meu caro...

RIP

Pronto! Ok, estou convecido, já não verei uma sequela de Ruptura Explosiva.

Ah! Pois... Swayse já tinha morrido nesse filme.

Pobres Coitados

Domingos Lopes descobriu a pólvora. O Partido Comunista não tem uma palavra contra os comunistas, passados, presentes ou futuros.
Descobriu que o Partido a que pertencia fecha os olhos a bem da doutrina.
Domingos Lopes desfiliou-se do Partido, continuando a ser comunista. Porque, parece-me a mim, há duas espécies de comunistas. Os cegamente convencidos e os convencidos desiludidos.
Ando a matutat nisto há quase dois dias e não sei que diga, nem a uns nem a outros.

Esmiuçando um bocadinho, que tenho mais que fazer

Fez-me confusão ver Sócrates a rir com um sorriso tão largo. Que sorria, nada contra, mas ver o primeiro ministro sorrir daquela maneira, pela primeira vez em quatro anos, pareceu-me excessivo. Penso que com a boa vontade de Ricardo Araújo Pereira, Sócrates passou com distinção e o teste deve ter sido mais fácil que o do Inglês Técnico. A partir do momento em que percebeu que podia meter a cassete e safar-se daquilo incólume o primeiro-ministro fez o que devia. Uma ressalva, a última pergunta (a de como acabar com um telejornal) fez com que Sócrates abrisse os olhos e tivesse que respirar fundo para sair airosamente. O que, na minha opinião, fez.
Manuela Ferreira Leite pareceu-me mais à vontade, dando uma imagem diferente daquela a que estamos habituados. Pareceu-me uma entrevista mais longa (e aqui páro, indeciso. Terá Ricardo Araújo Pereira querido cansar a candidata? Foi uma oportunidade de passar mais "rasteiras"? Ou terá sido a própria Manuela Ferreira Leite a não querer dar o tempo por perdido e passar mais algum tempo na cadeira?) que a de 2ª Feira. Destaco a resposta de Ferreira Leite, em que diz que RAP não deverá votar PSD como a melhor que terá dado.
Um senão, Ferreira Leite demorou mais tempo a responder que Sócrates. Poderia andar à procura de uma boa punch line? Gosto de pensar que sim, outros culparão a idade da senhora.
Hoje, Paulo Portas.

Uma História da Guerra

Continuando a falar de livros, não resisto a realçar o belo livro (objecto) que é a versão de bolso de Uma História da Guerra, da Tinta da China.
Os parabéns à editora e aos responsáveis individuais. Há muito tempo que não me dava tanto prazer comprar um livro enquanto objecto.

The Lost Symbol

Comprei o livro, ainda que tenha desgostado dos outros dois com o Professor Langdon como personagem principal. (Nota: gostei mais de Anjos e Demónios)
Ainda não o comecei a ler porque esbarrei numa página.
Lê-se
FACT:
In 1991, a document was locked in the safe of the director of the CIA. The document is still there today. Its cryptic text includes references to an ancient portal and an unknown location underground. The document also contains the phrase "It´s buried out there somewhere.
All organizations in this novel exist, including the Freemasons, the Invisible College, the Office of Security, the SMSC, and the Institute of Noetic Sciences.
All rituals, science, artwork, and monuments in this novel are real.
Se não perceberam porque parei explico. Esta tentativa errada de transformar um romance em factos, dados concretos parece-me inusitada, ainda que seja isso (pelo menos é um dos factores) que faz com que o livro venda. Enquanto leitor, irrita-me. Se quisesse ter acesso a factos lia um livro científico, via uns documentários ou via um telejornal (o da Manuela incluído).
Os romances são, por definição, romances, invenções da mente de alguém, que podem, ou não, ter bases concretas, mas que não devem passar por verdade.
Vender a ficção como realidade é uma aventura, aparentemente, fadada ao sucesso (no caso de Dan Brown, pelo menos), mas que vejo com tristeza e apelido de farsa. Infelizmente, nestes tempos pós-modernos, ou pós pós-modernismo, incita o prazer e a imaginação alheia, tendo em conta o senso comum e o conhecimento espartilhado e raso actual.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vi o 2º filme de Ficheiros Secretos este fim-de-semana.
Antes das férias (re)vi metade da 3ª temporada, no momento em que a série começava o culto e antes das birras dos intervenientes e da queda de qualidade das últimas temporadas, paradoxalmente antes da viragem quase completa à análise dos ovnis e extra-terrestres.
Este segundo filme, que o realizador/argumentista/criador gostava que tivesse sido um voltar à carga é interessante, mas pouco mais do que isso.
Mulder e Scully já não estão no FBI, vivem juntos e são chamados a investigar o desaparecimento de uma agente do FBI, avaliando a veracidade de um sacerdote pedófilo que tem visões e que auxilia a equipa.
O facto dos dois personagens viverem juntos torna-se mais interessante e verosímil para quem acompanhou a série, o resto da história é digno de um x-file, mas aquém de alguns dos episódios clássicos da série. A dinâmica entre os dois ex-agentes mantém-se, e confesso que Scully me irrita menos hoje, mas o hype morreu. Feliz ou infelizmente. A verdade é que o espírito da série é menos actual do que quando apareceu, na década de 90 havia um gosto especial por aquelas temáticas, hoje não tanto, por outro lado, e basta ver alguns episódios das séries - para perceber que a forma de contar e produzir (a música ambiental quase omnisciente) um episódio está igualmente datada. Ainda que o filme se tenha livrado destes condicionantes, a história parecerá estranha o suficiente, mas os fãs já terão outros interesses, e os não fãs ou desconhecedores da série estarão noutras paragens.
É pena...mas este fã dos Ficheiros hoje segue mais apaixonadamente Fringe.
As semanas parecem mais curtas sem um novo episódio de Fringe, a série mais interessante de ficção científica depois de BSG e Ficheiros Secretos. Quando começa a segunda temporada?

Em quem votar?

Vi parte do debate entre Sócrates e Ferreira Leite, parte porque o torpor apoderou-se de mim e mudei de canal antes de começar a ressonar.
Politicamente estou mais próximo do PSD do que do PS, não tenho simpatia especial por Ferreira Leite, mas antipatizo com Sócrates. Pronto, já disse.
Irrita-me a convicção com que Sócrates diz algumas coisas, não porque não goste de convicções, mas porque me parece que a convicção em Sócrates é um estilo e não uma qualidade. Veja-se a forma como desdisse ontem o que já tinha dito no dia anterior sobre a reformulação do Governo. É isto que me mete medo, a forma convincente como distorce, altera o que já foi dito. Será patologia?
Quanto a Ferreira Leite, já se percebeu que a táctica é não dizer muito, deixar por dizer (como se viu na entrevista, em que não concretizou alguns dos ataques) e a VERDADE já não é o mesmo depois da Madeira.
Resumindo, afasto-me de Sócrates que abomino politicamente, mas não me aproximo de Ferreira Leite que me desiludiu nos últimos meses. Portugal está na corda bamba e duvido que algum destes candidatos o consiga levar a bom porto.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Não sei se será a idade ou o calor, mas a semana passada fui ao cinema e não, coisa rara, entrei.
Já tinha visto o novo Tarantino e o brilhante Up, infelizmente os filmes que lá estavam tinham demasiada qualidade para empurrar o Ponyo à beira-mar para as sessões da tarde. Não há público para ver este filme à noite? Nem na primeira ou segunda semana de exibição?
Entrámos no hall do cinema, vimos os cartazes e voltámos alegremente tristes para casa.
Li os três livros de Stieg Larson como quem depois de uma caminhada ao sol durante horas se vê diante de uma cerveja fresquinha.
Espero ansiosamente pela versão cinematográfica, que espero apareça nas nossas salas, sueca.
Já agora e porque somos cegos em relação à maior parte do cinema que se faça fora dos EUA, aconselho-vos a dar uma vista de olhos a outros produtos televisivos da produtora da versão cinematográfica, a Yellow Films. Falo-vos das versões cinematográficas suecas de Wallander e Van Veeteren, são estas duas séries, que já vi, que aumentam em muito a expectativa em ver o resultado final.
Sim, porque já me disseram almas caridosas que Hollywood anda atrás dos direitos para fazer a sua versão da trilogia, mas eu, desculpem lá, sou avesso a remakes. Rec, só o espanhol, The Departed não, prefiro a trilogia de Hong Kong, e não faço comentários sobre o Wallander de Branagah porque ainda não o vi.
Senhores distribuidores, comprem lá o filme se faz favor.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Cometi um erro enorme. Fui ter com uns amigos ao Algarve, em pleno Agosto.
Infelizmente, não os convenci a pass(e)ar comigo pelas serranias algarvias, olharam para mim e para a minha alva pele e arrastaram-me para uma praia infestada de famílias inteiras e quase sem areia à vista.
É esta gente que se queixa das filas? Dos automóveis, da loja do cidadão, das finanças?
Esta gente prefere descansar no meio de magotes de gente? Lembrei-me do Jorge Palma, não era Santa Apolónia que vomitava magotes de gente, era uma das muitas praias algarvias.
O pior é que esta gente pode fazer três ou quatro quilómetros até areais menos congestionados, mas qual quê...
Faz-me espécie, isto, faz-me mesmo.
Não ligo à selecção desde que Scolari veio para cá. São gostos, vontades e ódios de estimação. Pouco me importa se com ele quase que ganhámos alguma coisa. Não ganhámos nada.
Que me importa a mim que com Queiroz nem sequer estejamos perto da oportunidade de estarmos presente numa competição para tentar ganhar alguma coisa?
Para não ganhar nada, é preferível que os jogadores tenham férias como os restantes, para se juntarem aos clubes logo de início.
Tudo isto para me lembrar de sábado. Vi o jogo, sem grande interesse, com um grupo de amigos, entre unhas roídas, saltos (meios saltos, enfim) e muita gritaria. Lembrei-me de um concerto visto há uns anos, com uma pop star que levava pitas aos magotes atrás. (In)felizmente (?) o concerto foi mais interessante, e as pitas tiveram mais prazer, gritando muito mais.

Continuo sem perceber a mania que as pessoas têm de atribuir ao entusiasmo para com a selecção o maior ou menor grau de prazer em ser português. Ainda para mais com três brasileiros no onze.
Há algo em mim que me impede de crescer. Uma forma fácil de constatar este facto é o prazer e o desejo de ver animação.
Este verão sentei-me e vi o Panda do Kung Fu. Na realidade vi e não vi o filme. Vi-o todo, rindo aqui e acolá. Mas na minha mente ainda estou ali sentado, frente ao televisor e ver a cena em que o vilão foge da prisão. "Porra, é pior que qualquer vilão do Naruto, pensei. Que porcaria de cena, estou na dúvida se ele é muito mau ou um super-vilão. Tssscc, c´um caneco, isto é demais, mesmo para um filme para crianças".
Ainda estou ali, na inverosimilhança da cena, pena que queira perfeição num filme de animação, para crianças.

Ainda assim, o filme segue uma estrutura clássica de um filme de acção, o que é de louvar, caso eu o tivesse "visto" até ao fim, fá-lo-ia...
Eles "andem" aí. Confesso que numa época tão pródiga de conteúdo político tenho feito o possível para me esquivar dele. Não vi nenhuma das entrevistas aos líderes políticos, ainda não consegui ver nenhum dos debates, nem sequer os pós-debates. (Para que servem os pós-debates? Eu após o sexo dá-me sono, os pobres comentadores lá tentam adormecer quem não foi vencido pelos argumentos dos políticos.)
Estou naquela linha cinzenta entre o dever e o errar (errar no sentido de andar por aí, como alguns políticos). Ontem, ouvi a frase que, de uma forma mais brejeira, indica o meu actual estado de espírito perante a classe política portuguesa. Era de João Jardim.
Uma miséria, é o que é. Qual verdade, qual sentido de estado, qual senso comum, pelo menos...
Cada qual se comporta da maneira que mais lhe convém quando no poleiro.
Sabem? Eu tenho mais do que fazer...infelizmente, esta país é uma treta.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

What´s your name, luv?

Porra Porra Porra e Porra!
O raio da música não me sai da cabeça. Irritante o suficiente cá para estes lados, mas não se me estranhou, entranhou-se logo. O melhor a fazer é evitar a procura de som destes dois meninos, quedo-me por ouvir isto em repeat ad aeternum...

Há mulheres bonitas e depois há...


Confesso-me. Deixei de ver Lost por duas razões.

Quero ver a série de seguida, sem paragens. Sou impaciente e um pouco lerdo.
Essa é uma das razões, a outra é porque esta moçoila foi morta, o que deu cabo de mim por uns tempos.

Costumo ser moderadamente selectivo nas escolhas cinematográficas. Evito aquilo que aparentemente não presta. Por causa da pancada com esta senhora já vi admiráveis subprodutos, que não mereciam cinco segundos frente ao televisor, mas enfim... ela está lá!

A violência em Sacanas sem Lei - que raio de tradução

Fui ver Inglorious Basterds e fico chateado com a forma como os espectadores se comportam. Não há paciência, se é verdade que em alguns filmes não param calados, seja a falar, seja a ruminar o raio das pipocas, fiquei admirado com a beatice dos que se sentaram na mesma sala do que eu.
Só não ouvia as moscas porque o som estava à maneira, mas só me ouvia a mim a rir nas cenas antológicas com Brad Pitt. O pessoal que me acompanhou estava vermelho de vergonha e sussuraram-me um "mais baixinho". Enfim... atitudes demasiado beatas, mas antes assim. Destoei eu, pronto.

Por outro lado, admirei-me com a pouca profusão de asneirada e com a relativa pouca violência presente no filme, estava à espera de mais, após ter lido algumas críticas. Pareceu-me dos filmes mais familiares (no sentido de para a família) de Tarantino.

Sr. Dr., pode ajudar-me?

Adoro policiais. Leio policiais. Devoro policiais.
Sobretudo os nórdicos e os ingleses.
Gosto de cronistas. E gosto de livros de viagens.
Dito tudo isto. Devorava o Francisco José Viegas da Grande Reportagem. Sigo atentamente o Origem das Espécies. Venero o bom Sousa Homem.
Mas o que me atormenta é que não consigo ler mais do que dois capítulos dos policiais do homem sem bater com o queixo nos joelhos.
O que fazer?

Quantos morrem?

Nunca vivi tempo suficiente noutro país para perceber o uso que se faz lá fora das sondagens e dos números, mas quer-me parecer a mim que os lusitanos são um pouco loucos com os números. Será um paradoxo, ou mesmo uma contradição, já disse que ainda não compreendi, mas pode ser que o ódio/incapacidade de compreender ou ter sucesso a matemática dite esta nossa paixão pelos números.

Abra um jornal. Há valores em tudo o que é notícia, quanto custa isto ou aquilo, quanto dinheiro teremos de pagar se construirmos aquilo ou se desistirmos de o fazer.
Uma coisa que me ultrapassa solenemente é a contagem dos casos de gripe A e a respectiva futurologia. Parece-me que nos estamos a masturbar com os dados estatísticos e estamos à espera do prazer com a primeira morte.
O exemplo pode parecer triste, mas todo este tratamento parece-me sado-masoquismo.

Vozes

Estive fora do país dez dias.
Devo ser um caso patológico, porque ao contrário de outros já não é a primeira vez que fujo para locais mais frios no verão. Nesses dez dias estive quase longe de tudo o que acontecia no país, aqui e ali acedia à net, ora para ver algumas das notícias, bem como os resultados do campeonato, mas no final tudo se resumia a texto e algumas fotografias.
Cheguei num dia à noite e na viagem de regresso a casa, de carro, não resisti à tentação e liguei o rádio.
Ouvir a voz de Sócrates, naquele tom irritativo e irritante anunciou o final das férias, o regresso à normalidade. Não foi o regresso ao trabalho que me deprimiu, foi o regresso aos sondbytes lusitanos, nomeadamente ao tom de voz do nosso PM. Ontem, corajoso, troquei a entrevista por um joguinho na PlayStation.
Tenho medo do meu estado de espírito no final deste mês...quero fugir daqui outra vez.